terça-feira, 22 de junho de 2010

Era uma vez...

A adoção já era um desejo antigo de um casal de namorados que ansiava por uma vida cheia de amor e adoçada por filhos. Após nove anos de namoro e menos de um ano de casamento, já habilitados, numa visita a um abrigo, deparamo-nos com um bebê de um mês recém completado que encantou-nos desde o primeiro instante com um sorriso cativante.
Não imaginávamos que estava para adoção e foi difícil acreditar que nossa história estava acontecendo! Não sabemos o que se passou no período em que esteve lá, se alguma expectativa de adoção foi frustada pela possibilidade daquele anjinho ser portador do vírus HIV; sim, sua genitora é soropositiva e ainda não se tinha nenhum resultado de carga viral dele. A notícia nos abalou, ver aquele pequeno ser tão indefeso sujeito a uma doença tão cruel, nos doeu muito. Mas mesmo diante desta dor, nosso coração foi tomado por uma força divina que nos disse “Ele é filho de vocês e nada vai mudar isto!”.
Nossa família aumentou!Naquela mesma hora fomos ao juizado e começamos um longo e moroso processo de destituição e adoção. Os exames deram negativos, felizmente nosso anjo não é portador do vírus.
Um dos requisitos para a escolha do nosso perfil de adoção é em relação à saúde da criança. Eu nunca imaginei ser capaz de lidar com algum tipo de problema, mas cheguei à conclusão que nem mesmo em relação a isso podemos escolher. Estávamos diante de uma situação nova, criar uma criança com HIV? Sim, seríamos capazes!
Antes mesmo da última carga viral realizada e confirmatória de negatividade, começamos a observar espasmos constantes e algumas alterações neurológicas. Aos quatro meses foi diagnosticado erroneamente como portador da Síndrome de West. Mais uma vez fomos tomados por uma dor terrível, por uma sensação de impotência, pelos porquês sem explicação... Três meses de tratamento errado, ainda com espasmos, sem resposta na fisioterapia nem na fonoaudiologia, procuramos outro neuropediatra. Começamos uma fase diferente: a certeza do diagnóstico, a esperança renovada, a fé de uma vida menos dependente. Cura? Se este for o nome de independência e felicidade... Faremos o possível para lhe proporcionar uma vida cheia de amor e de superação de suas limitações, sejam elas quais forem.
Mikael de Almeida Chirol é portador de paralisia cerebral, tem 2 aninhos de idade, não fala, não rola, não senta, não anda, não utiliza as mãos, tem estrabismo e outros problemas típicos da paralisia. A ressonância magnética mostrou grande comprometimento cerebral. Causa ainda desconhecida, mas provável importância da exposição ao vírus HIV da genitora. Apesar de várias limitações, tem interagido cada vez mais, balbuciando sons típicos de bebês, imitando, sorrindo, curtindo música, fazendo gracinhas. Não tem participado bem das terapias, pois chora bastante, mas mesmo diante de tantos gritos não desistimos. Enfim, é um bebê saudável e feliz, um pequeno grande vencedor que conta com a ajuda de vocês para realizar um procedimento que de alguma forma melhorará sua qualidade de vida.